31/12/2009
30/12/2009
18/12/2009
O Casamento
O ataque ao casamento homossexual indicia uma fixação no sexo e no poder.
Por Inês Pedrosa
A converseta moralucha em torno do casamento dos homossexuais recorda-me aquele fulgurante poema de Sophia de Mello Breyner que começa assim: "As pessoas sensíveis não são capazes/ de matar galinhas/ porém são capazes/ de comer galinhas". Não se pode chamar debate ou discussão ao que é apenas um tricô de preconceitos, uma espiolhagem salivante sobre a vida íntima dos outros.
Os homossexuais têm o mesmíssimo direito ao casamento que todas as outras pessoas, porque o contrato de casamento não se estabelece a partir do tipo de práticas sexuais dos que o contraem. A 'ideia' de que o casamento tem por objectivo a procriação, como afirma a dra. Manuela Ferreira Leite, não é confirmada pela lei de nenhum país democrático, talvez porque nem sequer se lhe pode chamar 'ideia': não passa de um fogacho de autoritarismo deslocado. O casamento não é fácil - e toda a gente sabe que não é a procriação o que o sustenta. Demasiadas vezes, pelo contrário, a mimosa prole estoira com essa relação de carne e alma entre dois adultos. Há gente para tudo, mas, em geral, o sexo não suporta a transfiguração dos amantes em papá e mamã.
O casamento é uma decisão extraordinariamente séria. Os heterossexuais tendem a esquecê-lo, porque podem casar e descasar sempre que lhes apetecer. Desde que procriem, segundo os fanáticos da procriação, não há problema. Mas basta olharmos à nossa volta para verificarmos que é exactamente esse o problema: o frenesim da procriação atenta contra os direitos dos procriados, aqueles a que na adolescência passamos a tratar por malcriados. As novas gerações crescem num hipermercado de mães e pais que mudam de mês a mês como as promoções especiais. O mais elementar bom senso confirmará que uma criança adoptada por um casal homossexual estável terá muito mais hipóteses de desenvolver as suas capacidades do que uma outra - e são tantas, basta abrir as revistas ditas cor-de-rosa para o confirmar - que viva de 'tio' em 'tio', de madrasta em madrasta, até à perda de referências final.
O bom senso só não nos pode meter isto pelos olhos dentro porque, em Portugal, o cenário de um casal homossexual com filhos é inexistente. Por causa da moral de esquina, hipócrita, opressora, da maioria amorfa. O lado esquerdo dessa maioria diz coisas como: "Eu não tenho nada contra a adopção por homossexuais, mas o problema é que a criança vai ser discriminada na escola". Estes são os mesmos que há trinta anos diziam: "Eu não sou racista, mas não gostava que o meu filho casasse com uma negra porque as crianças seriam discriminadas na escola". Agora abanam a cabeça, enervados, e dizem: "Não, não é a mesma coisa: porque a criança necessita de um modelo masculino e de um modelo feminno". Que modelos são esses, nesta fase de mutação acelerada em que as mulheres ganham autoridade e os homens doçura? Que modelos eram esses - o pai que bebia e batia, a mãe que apanhava e chorava? O pai que mandava, a mãe que obedecia? O centro dessa maioria diz: "Não sou contra os casais homossexuais, arranjem-lhes leis que os protejam, mas não lhe chamem casamento". Estes estão imbuídos de uma noção de superioridade: chamem-lhe outra coisa, para não atingirem essa coisa sublime a que só nós, os que fazemos o sexo do qual podem nascer bebés, temos direito. A direita dessa maioria diz simplesmente: "Vivam lá a vida deles, mas discretamente". Ou seja, às escondidas, como os senhores faziam filhos às criadas.
O mundo já caminhou o suficiente (no Ocidente, claro), para entender que as crianças precisam de adultos que as amem. Um homem e uma mulher. Ou só um homem. Ou só uma mulher - os filhos dos viúvos, como se criam sem o tal modelo outro? Ou dois homens. Ou duas mulheres. As crianças precisam de modelos de amor. O amor, qualquer amor, ilumina. Os que se amam devem ter o direito à partilha e à herança um do outro. Devem ter o direito a acompanhar-se na saúde e na doença, em casa e no hospital, até ao último suspiro. As pessoas que pretendem negar a outras pessoas o direito ao casamento, fundamentando essa recusa no tipo de práticas sexuais dos outros, estão certamente a precisar de tratamento psiquiátrico. Porque só pensam em sexo e em poder, e há outras coisas na vida, muito mais importantes. A começar pelo amor.
Texto publicado na edição do Expresso de 5 de Dezembro de 2009
Por Inês Pedrosa
A converseta moralucha em torno do casamento dos homossexuais recorda-me aquele fulgurante poema de Sophia de Mello Breyner que começa assim: "As pessoas sensíveis não são capazes/ de matar galinhas/ porém são capazes/ de comer galinhas". Não se pode chamar debate ou discussão ao que é apenas um tricô de preconceitos, uma espiolhagem salivante sobre a vida íntima dos outros.
Os homossexuais têm o mesmíssimo direito ao casamento que todas as outras pessoas, porque o contrato de casamento não se estabelece a partir do tipo de práticas sexuais dos que o contraem. A 'ideia' de que o casamento tem por objectivo a procriação, como afirma a dra. Manuela Ferreira Leite, não é confirmada pela lei de nenhum país democrático, talvez porque nem sequer se lhe pode chamar 'ideia': não passa de um fogacho de autoritarismo deslocado. O casamento não é fácil - e toda a gente sabe que não é a procriação o que o sustenta. Demasiadas vezes, pelo contrário, a mimosa prole estoira com essa relação de carne e alma entre dois adultos. Há gente para tudo, mas, em geral, o sexo não suporta a transfiguração dos amantes em papá e mamã.
O casamento é uma decisão extraordinariamente séria. Os heterossexuais tendem a esquecê-lo, porque podem casar e descasar sempre que lhes apetecer. Desde que procriem, segundo os fanáticos da procriação, não há problema. Mas basta olharmos à nossa volta para verificarmos que é exactamente esse o problema: o frenesim da procriação atenta contra os direitos dos procriados, aqueles a que na adolescência passamos a tratar por malcriados. As novas gerações crescem num hipermercado de mães e pais que mudam de mês a mês como as promoções especiais. O mais elementar bom senso confirmará que uma criança adoptada por um casal homossexual estável terá muito mais hipóteses de desenvolver as suas capacidades do que uma outra - e são tantas, basta abrir as revistas ditas cor-de-rosa para o confirmar - que viva de 'tio' em 'tio', de madrasta em madrasta, até à perda de referências final.
O bom senso só não nos pode meter isto pelos olhos dentro porque, em Portugal, o cenário de um casal homossexual com filhos é inexistente. Por causa da moral de esquina, hipócrita, opressora, da maioria amorfa. O lado esquerdo dessa maioria diz coisas como: "Eu não tenho nada contra a adopção por homossexuais, mas o problema é que a criança vai ser discriminada na escola". Estes são os mesmos que há trinta anos diziam: "Eu não sou racista, mas não gostava que o meu filho casasse com uma negra porque as crianças seriam discriminadas na escola". Agora abanam a cabeça, enervados, e dizem: "Não, não é a mesma coisa: porque a criança necessita de um modelo masculino e de um modelo feminno". Que modelos são esses, nesta fase de mutação acelerada em que as mulheres ganham autoridade e os homens doçura? Que modelos eram esses - o pai que bebia e batia, a mãe que apanhava e chorava? O pai que mandava, a mãe que obedecia? O centro dessa maioria diz: "Não sou contra os casais homossexuais, arranjem-lhes leis que os protejam, mas não lhe chamem casamento". Estes estão imbuídos de uma noção de superioridade: chamem-lhe outra coisa, para não atingirem essa coisa sublime a que só nós, os que fazemos o sexo do qual podem nascer bebés, temos direito. A direita dessa maioria diz simplesmente: "Vivam lá a vida deles, mas discretamente". Ou seja, às escondidas, como os senhores faziam filhos às criadas.
O mundo já caminhou o suficiente (no Ocidente, claro), para entender que as crianças precisam de adultos que as amem. Um homem e uma mulher. Ou só um homem. Ou só uma mulher - os filhos dos viúvos, como se criam sem o tal modelo outro? Ou dois homens. Ou duas mulheres. As crianças precisam de modelos de amor. O amor, qualquer amor, ilumina. Os que se amam devem ter o direito à partilha e à herança um do outro. Devem ter o direito a acompanhar-se na saúde e na doença, em casa e no hospital, até ao último suspiro. As pessoas que pretendem negar a outras pessoas o direito ao casamento, fundamentando essa recusa no tipo de práticas sexuais dos outros, estão certamente a precisar de tratamento psiquiátrico. Porque só pensam em sexo e em poder, e há outras coisas na vida, muito mais importantes. A começar pelo amor.
Texto publicado na edição do Expresso de 5 de Dezembro de 2009
09/12/2009
03/12/2009
Arquitectando...
Instead of being merely the producer of a unique three-dimensional product, architects should see themselves as programmers of a process of spatial change.
Piet Vollaar
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06/11/2009
25/10/2009
21/10/2009
26/09/2009
17/09/2009
30/07/2009
27/07/2009
Berlin Preview
Potsdamer Platz
No próximo semestre irei mudar-me para Berlim, onde irei estudar na Technische Universität, ao abrigo do programa Erasmus, ou seja, estarei de volta no final do próximo ano lectivo.
Entretanto decidi colocar aqui algumas imagens que recolhi em Fevereiro, quando lá estive. Assim espero ir aguçando a minha ansieadade e o vosso desejo de acompanharem a minha estadia na capital alemão. Fica portanto aqui a promessa de ir mostrando Berlim através dos meus olhos.
No próximo semestre irei mudar-me para Berlim, onde irei estudar na Technische Universität, ao abrigo do programa Erasmus, ou seja, estarei de volta no final do próximo ano lectivo.
Entretanto decidi colocar aqui algumas imagens que recolhi em Fevereiro, quando lá estive. Assim espero ir aguçando a minha ansieadade e o vosso desejo de acompanharem a minha estadia na capital alemão. Fica portanto aqui a promessa de ir mostrando Berlim através dos meus olhos.
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20/07/2009
17/07/2009
Um Novo Estado Novo...?
Li no jornal há uns dias atrás que aquela persnoagem ignóbil que comanda o Arquipélago da Madeira, proferiu mais uma das suas brilhantes tiradas, perante as quais a melhor solução será uma gargalhada estridente. Assim mitigamos a vontade de chorar quando nos recordamos das bestas que nos governam. E assim é porque nós merecemos, nós portugueses.
Desta vez o tio Alberto, defendeu que o comunismo deveria ser proibido na Constituição. Ora sabemos que o comunismo falhou redondamente. Mas isso não significa que a ideologia seja intrinsecamente má, até pelo contrário, é talvez a melhor, no entanto não funciona. Haverá sempre uma vil tentação pelo poder e a igualdade não passará de um triste nivelamento por baixo, impedindo quaisquer aspirações.
O que é verdadeiramente assustador, é que nos últimos tempos tem havido um discurso saudosista desenterrando o nosso velho Estado Novo. Aquela outra senhora que exala competência e seriedade (competente não sei, séria sim senhora) Manuela Ferreira Leite cometeu uma "gaffe" muito reveladora (que de "gaffe" não tem nada) afirmando que só com a interrupção temporária da democracia seria possível "endireitar" o país. Ora há mais de 80 anos foi isso que aconteceu e o país asfixiou durante 48 anos. Ainda há que frisar, aquele concurso organizado pela RTP, O Melhor Português de Sempre. Como é possível alguma vez na vida considerar Salazar o melhor português de sempre? Ele que o mais longe que alguma vez foi, foi Badajoz! Ele que numa época em que Portugal era um "imenso império" nunca visitou uma única colónia! Não admira que ele tenha arrastado o país para uma guerra estúpida, contra a merecida autonomia dos povos carinhosamente tratados pelo colonialismo português.
Sinceramente tenho pena, verdadeira e honesta pena, das muitas pessoas (não quero dizer os portugueses, porque afinal apenas era um programa televisivo) que se revêem neste avaro chefe de Estado. Chega de saudosismos idiotas de um tempo em que a vida NÃO era melhor. Será que as pessoas esquecem assim tão facilmente? Ou então a vidinha que tinham era-lhes suficiente, e mais uma vez, que pena...
A nossa democracia está doente. Mas assim é porque NÓS deixámos. Já passou o tempo do pessimismo, as coisas vão piorar. Mas e agora? O que fazer? Uma coisa é certa, em momentos de crise profunda não podemos pôr em stand-by valores alienáveis.
Sejamos mais exigentes. Façamos ouvir o nosso descontentamento, não apenas no café ou no sofá, em manifestações que paralisam em vez de ajudarem de facto o país. Ajamos. Trabalhemos mais e melhor. Patriotismo não é gritar pelo Cristiano Ronaldo oum pendurar uma bandeira made in China na marquise! Patriotismo é sermos bons, bons no que fazemos, bons para com os outros.
O importante é que se faça alguma alguma coisa. Não paremos. Estagnar é morrer.
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09/07/2009
Sobre Rodas e Pedais
Após ter iniciado a minha vida de ciclista, há muito adiada, por medo das colinas e/ou também preguiça, recomendo uma vista de olhos a este blog para quem quer começar a usar a bicicleta mas ainda não teve o empurrão (mesmo depois de ter visto o Home, foi graças a ele que eu comecei!).
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05/07/2009
HOME de Yann Arthus Bertrand
Recomendo a todos que assistam a este documentário, para além de nos mostrar imagens absolutamente extraordinárias do nosso planeta, é impossível ficarmos indiferentes.
Agora ando de bicicleta e quero ir de comboio para Berlim, porque a mudança começa nas pequenas coisas e porque não é possível pedirmos ou exigirmos aos outros algo que não sejamos capazes, ou não façamos realmente.
Porque este Planeta é a nossa Casa, e não temos mais para onde ir.
Porque este Planeta é maravilhoso, e nos proporciona tudo o que necessitamos.
Porque somos todos seres vivos, e todos temos impacte no mundo que nos rodeia.
Vejam, e movam-se.
http://www.youtube.com/homeproject
Agora ando de bicicleta e quero ir de comboio para Berlim, porque a mudança começa nas pequenas coisas e porque não é possível pedirmos ou exigirmos aos outros algo que não sejamos capazes, ou não façamos realmente.
Porque este Planeta é a nossa Casa, e não temos mais para onde ir.
Porque este Planeta é maravilhoso, e nos proporciona tudo o que necessitamos.
Porque somos todos seres vivos, e todos temos impacte no mundo que nos rodeia.
Vejam, e movam-se.
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24/06/2009
02/06/2009
Recordações de Infância
Este vídeo trouxe-me à memória um mundo que já passou, mas, ao revisitá-lo, tornou-se tão presente e real. Apenas gostaria de partilhar o vídeo, sabendo que não irá despoletar o mesmo que em mim despoletou. No entanto vale mesmo a pena vê-lo. É muito bom.
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08/03/2009
03/03/2009
06/02/2009
04/02/2009
As Quatro Estações, Verão
Como tenho ouvido este andamento em repeat queria partilhá-lo, acompanhado de uma animação de Ferenc Cakó.
21/01/2009
13/01/2009
03/01/2009
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